Já me propusera a escrever estes singelos comentários sobre o verdadeiro sonho que seria e será a união dos nossos representantes políticos em prol do progresso da Paraíba quando o arguto deputado federal Ruy Carneiro, do PSDB, que certamente possui critérios para avaliar os impasses que dilaceram o estado melhor do que eu, apresentou na tribuna da Câmara dos Deputados em Brasília sua proposta de “Pacto pela Paraíba” e, assim, em face de sua importância, interrompo a sequência de artigos que batizei de “as dores da legalidade” para discorrer sobre a feliz iniciativa.
Segundo Ruy – que traz no sangue o DNA dos saudosos Ruy e Alcides Carneiro, figuras de proa que marcaram a vida pública pela inteligência, honradez e fidelidade aos interesses da Paraíba, bem como, pelo trato cordato e o diálogo com as forças políticas, não deixando que os embates eleitorais transformassem adversários em inimigos irreconciliáveis -, “é preciso unir para avançar”, pois, ainda segundo ele, “é chegada a hora de deixar de lado as mágoas e cores partidárias e trabalhar pelo desenvolvimento da Paraíba”.
Imbuído de sensibilidade política própria de quem está conectado aos interesses superiores dos cidadãos que representa, trabalha o il. deputado junto aos demais parlamentares paraibanos com assento nas duas casas do Congresso para tornar realidade a proposta, já tendo sido marcada uma reunião que ocorrerá neste mês de março em Brasília com a presença do governador Ricardo Coutinho, a qual desde já auguramos seja exitosa.
Como é do conhecimento geral, em momentos de crises graves, as forças de uma sociedade politicamente organizada (país, estado, município, etc) podem se unir em torno de idéias e objetivos que superem divergências e interesses de pessoas, grupos e mesmo parcelas que a integram em prol de medidas e programas que favoreçam o ente político e a própria sociedade que o sustenta. De destacar-se, que tais pactos, por evidente, procuram alcançar objetivos maiores que de outro modo não seriam possíveis ou o seriam de forma incompleta e insatisfatória.
Colocar os interesses públicos acima dos interesses pessoais-eleitorais neste desigual país é tarefa hercúlea e de certo estranha às nossas práxis políticas, fato que pode ser comprovado desde o advento da República em 1889, bem retratado nas turbulências que a acompanharam até a derrocada da chamada república velha em 1930.
Os sonhos de um de um dos seus mais qualificados arquitetos, Rui Barbosa, já no início da era republicana, foram chamuscados com a decretação do estado de sítio pelo marechal-presidente Floriano Peixoto e desaguou numa prática anti-republicana vergonhosa entre os interesses de dois estados dominantes (Minas e São Paulo) que levaram de reboque a incipiente federação e constitui a raiz histórica dos desequilíbrios regionais que até hoje sangram o tecido social da nação.
Contextualizando os fatos para o nosso estado, ousaria dizer, com risco de censura e pedindo vênia aos especialistas na matéria, que, mutatis mutandis, o mesmo ocorreu em relação as nossas forças políticas, tendo por marco a revolução de 30 e o trágico assassinato do presidente João Pessoa.
Consequência típica desse radicalismo retrógado foi o estabelecimento de práticas marcadas pelo patrimonialismo de estado em favor dos detentores do poder, que fincaram no governo a cultura do clientelismo como método e combustível que alimentou, a partir de então, a política excludente de considerar os adversários como inimigos, em alguns casos, inimigos de sangue, aspecto que parece perdurar até os nossos dias.
A concentração do poder nas mãos de alguns e/ou de poucas famílias em muito contribuiu para a não-renovação de lideranças e a petrificação do ideário político-democrático que pouco se afastou daquilo que praticaram os condutores e integrantes das duas vertentes ou dos dois cordões que governaram o estado. Os hiatos democráticos vividos pelo país nas décadas de 30-45 e 64-84, do século passado, em muito também contribuiu, localmente, para a manutenção do status quo excludente e do silenciamento de opositores através do medo, prisão, cassação de mandatos, exílio e morte.
Após quase 23 anos de democracia plena, contados da Constituição de 1988, forçoso reconhecer uma certa decepção dos paraibanos com os condutores do estado e, por isso, é que se deu a guinada ou correção de rumo com a eleição de Ricardo Coutinho, que não tem origem política em nenhum daqueles cordões, ao cargo de governador. Há nisso grande simbolismo e expectativa alicerçada na pacífica e majoritária vontade popular que decidiu pela renovação política estadual, a nível de executivo.
Em face da estratificação inerente à representação política, no Congresso tal fenômeno não logrou a mesma intensidade, mas abre-se-lhe uma oportunidade histórica única de atender a proposta defendida pelo deputado Ruy Carneiro de pacto ou de união pela Paraíba tão necessitada dos melhores esforços dos seus parlamentares para a superação de divergências que têm obstado o seu desenvolvimento, fato esse inegável.
Hoje, os modernos meios de divulgação da mídia permitem que a população acompanhe em tempo real a atividade dos seus representantes políticos e isso lhe fornece elementos para emitir juízos de valor a respeito do trabalho que realizam.
As disputas não devem eternizar-se o tempo todo e durante todo o governo, mas apenas no período do calendário partidário-eleitoral e, ao que comprova-se, cada dia ficam menos nítidas as diferenças inerentes aos programas de governo, fenômeno que já se verifica nas nações desenvolvidas, como Estados Unidos e Inglaterra, mas que também nos alcançou.
A propósito, se tivesse vencido a eleição presidencial, um eventual governo federal do PSDB-DEM não seria muito diferente do que atualmente governa o país, o que na realidade é muito bom, pois livra a nação do messianismo de líderes carismáticos e demagógicos.
A sociedade hoje está muito mais atenta e repudia os expedientes políticos- revanchistas de perdedores contra vencedores das eleições às custas do sofrimento da população.
Não há mais lugar para exercitar a vingança, o boicote aos interesses do estado ou do município apenas porque o governador ou o prefeito não pertence ao partido ou é adversário desse ou daquele parlamentar que assim age para inviabilizar o sucesso de programas ou ações governamentais que beneficiam a comunidade.
O povo, o grande prejudicado, certamente cobrará a conta das suas frustrações e sacrifícios na próxima eleição, o que é próprio do regime democrático.
Política não é a anti-arte da non sense, da politicagem rasteira do quanto pior melhor e sim processo de viabilizar soluções democráticas para os problemas sócio-econômicos que nos afeta, pois os cidadãos, agora melhor informados, sabem quem pratica uma e outra. O grande Péricles, pai da democracia ateniense, ensinou que “embora só uns poucos sejam capazes de formular uma política todos têm o direito de julgá-la”.
Também saberão quais condições eram ou foram necessárias para que triunfasse e quais causas levaram ao fracasso. São condições objetivas, mensuráveis e que podem desvendar a participação ou omissão dos respectivos responsáveis sejam de que partidos forem.
Os políticos são eleitos para trabalhar pelos interesses da sociedade, interesses públicos, pouco importando o cordão ou a cor partidária a qual pertencem. A Paraíba tem ficado para traz, estagnada econômica e politicamente na insensatez das divergências, dos impasses, dos desvarios dos egos que teimam em ser maiores do que ela e até mesmo seus proprietários.
Urge, aos senhores senadores, aos senhores e senhoras deputados e deputadas federais e estaduais, vereadores e vereadoras, o necessário desarme dos espíritos em favor do pacto ou da união pela Paraíba.
Esta nobre ação, se efetivada, não terá vencidos, apenas vencedores que serão reverenciados com orgulho e respeito pelos paraibanos. Os votos futuros de cada um virão, como disse Ruy Carneiro, da “união para avançar” e não da desunião para regredir.