Um paraibano por trás da live do extremista que atacava as urnas eletrônicas e questionava o sistema eleitoral brasileiro. Apontado como um dos pilares do que os investigadores chamam de “gabinete do ódio”, uma estrutura que funcionava supostamente dentro do Palácio do Planalto na gestão Bolsonaro, cujo objetivo era disseminar notícias falsas e atacar adversários do ex-presidente.
Em depoimento à Polícia Federal, o ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Tercio Arnaud Thomaz confirmou que fez o download de uma live que atacava as urnas eletrônicas logo após as eleições de 2022.
Alvo de busca e apreensão da PF em fevereiro, Arnaud deixou digitais na campanha de desinformação contra as urnas eletrônicas. Em interrogatório realizado em 22 de fevereiro, a PF indica que Arnaud foi um dos articuladores da live do consultor político Fernando Cerimedo, expoente da extrema-direita argentina, que divulgou informações falsas contra o sistema eleitoral.
O paraibano explicou que baixou o arquivo, porque o material poderia ser retirado do ar. Em seguida, ele disse que enviou o material para o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, porque, segundo ele, “era um tema que era acompanhado pelo pessoal”.
O vídeo havia sido gravado pelo estrategista digital argentino Fernando Cerimedo. Em 5 de novembro de 2022, ele disseminou uma série de fake news sobre o sistema eleitoral brasileiro. Na época, a gravação foi amplamente divulgada por apoiadores de Bolsonaro.
A Polícia Federal encontrou provas na nuvem que relacionam a articulação para o discurso contra a democracia no Brasil. De acordo com a publicação, alvo de busca e apreensão da PF em fevereiro, Arnaud deixou digitais na campanha de desinformação contra as urnas eletrônicas.
Em interrogatório realizado em 22 de fevereiro, a PF indica que Arnaud foi um dos articuladores da live do consultor político Fernando Cerimedo, expoente da extrema-direita argentina, que divulgou informações falsas contra o sistema eleitoral.
A digital em comum nos três trabalhos de desinformação é de um dos integrantes do “Gabinete do ódio”. A linha de investigação é perceptível tanto no relatório da PF ao ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF), como nos depoimentos dos investigados.
Para as autoridades, a escolha do argentino para atacar a credibilidade da eleição presidencial tinha como objetivo driblar as decisões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que determinou a retirada de diversas notícias falsas contra as urnas.
A live de Cerimedo, realizada em 4 de novembro de 2022, durou 1 hora e 1 minuto e chegou a alcançar mais de 415 mil espectadores simultâneos. De acordo com registros obtidos pela PF, no mesmo dia Tercio Arnaud Tomaz, apontado como chefe do chamado Gabinete do Ódio, enviou dois arquivos de vídeo para Mauro Cid.
Na visão dos investigadores, o corte tinha como objetivo facilitar a circulação das falsas alegações por meio de redes sociais e aplicativos de mensagens, como WhatsApp e Telegram.
Dados sobre uma pasta mantida por Arnaud em um serviço de armazenamento na nuvem trouxeram um novo personagem para o plano. Os arquivos da live de Cerimedo foram salvos por Jean Hernani Guimarães Vilela, então assessor parlamentar na Liderança do Governo no Congresso Nacional.
A partir de maio deste ano, ele foi nomeado em um cargo no gabinete da deputada federal Carla Zambelli (PL–SP), outra figura já implicada em articulações para desacreditar o sistema de votação.
A tese falsa difundida pelo argentino passou a embasar outros ataques de bolsonaristas contra o sistema eleitoral, como um relatório encomendado pelo PL, partido de Jair Bolsonaro, contra o resultado do segundo turno.
Segundo a investigação, a empresa contratada foi o Instituto Voto Legal (IVL), que envolveu também a empresa Gaia.io no documento, que repetia a versão de Cerimedo de que urnas produzidas antes de 2020 tinham sido fraudadas para aumentar a votação de Lula. A suposta auditoria custou R$ 1 milhão ao PL, pagos com dinheiro público.
Além do relatório do PL, a live também serviu de subsídio para um documento enviado ao então ministro da Defesa, o general Paulo Sérgio Nogueira, com ataques ao sistema eleitoral. Segundo a PF, o texto parece ser uma minuta de manifestação a ser assinada por líderes partidários.
A tese sustentada é a mesma da live de Cerimedo de manipulação dos dados das urnas anteriores a 2020.
“Fato novo surgiu ao apagar das luzes da construção do relatório castrense e que obriga seja examinado”, diz trecho, em referência ao argentino.
O ex-assessor ficou conhecido entre 2013 e 2014 por manter uma página no Facebook chamada Bolsonaro Opressor, que ficou famosa na época, na qual atacava por meio de memes adversários do então deputado.
Redação