Com a intervenção federal no Rio de Janeiro bem-aceita pela população, a segurança pública será um dos principais temas abordados pelos candidatos a presidente. Mesmo quem quiser usá-la como artifício contra o governo de Michel Temer, terá dificuldade, aponta pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgada na semana passada. Até agora, são 11 nomes pré-confirmados na disputa ao Planalto. Para especialistas, perde quem já tratava do assunto de maneira isolada, pois terá que dividir a bandeira com os demais concorrentes. Quem ainda não abordava o tema, acreditam, corre o risco de parecer interessado apenas em votos. O que vai manter o tom dos discursos é a efetividade do Ministério Extraordinário da Segurança Pública e o próprio combate à criminalidade.
O debate se fortaleceu com a divulgação da 135ª Pesquisa CNT/MDA que mediu a expectativa da população em relação ao emprego, à renda, à saúde, à educação e à segurança pública. O levantamento aponta que 79,9% das pessoas estão acompanhando ou ouviram falar de notícias sobre a intervenção federal decretada pelo presidente da República para combater a violência no Rio de Janeiro. Diz também que 69% são a favor dela e consideram que essa foi uma decisão correta, e 32,6% apontaram problemas no combate à violência nas cidades em que moram.
Sócio-diretor da empresa de monitoramento legislativo SigaLei, Ivan Ervolino diz que a segurança pública, com certeza, tende a resistir até a eleição. “A força do assunto depende de uma variável de tempo dispensado a ele nas propagandas eleitorais, o que é difícil prever. Se quem ocupa cargo no Executivo ou no Legislativo der corda, o assunto também acaba rendendo mais. Em São Paulo, estão veiculando números da violência e do combate a ela no estado. Ciro Gomes (PDT) não falava do assunto e começou a falar (veja quadro). (Rodrigo) Maia (DEM) falava como presidente da Câmara e como morador do Rio de Janeiro. Agora, está formando opinião própria. Isso deve pautar a agenda de campanha dele. E possivelmente a de todos. Esse será o tema”, acredita.
Resultados
Ervolino lembra que o presidenciável que se prejudica com a enxurrada de discursos sobre segurança é Jair Bolsonaro (PSL). “Talvez não seja tão bom para ele, que tinha isso como uma bandeira forte e se viu obrigado a dividir. Ele foi empurrado para o banco do carona, pois temos presidenciáveis com mais mídia e mais poder de caneta para fazer, de fato, projetos de segurança pública. Agora que todo mundo fala, a voz dele ecoa menos. Vale lembrar da crise nos presídios nas regiões Norte e Nordeste, da precariedade da segurança em Recife, da guerra de facções brasileiras na divisa com o Paraguai… São temas ganhando corpo. Eles devem estar no discurso de quem leva a ideia a sério”, complementa.
O professor Geraldo Tadeu, cientista político e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), acredita que “houve, literalmente, uma virada de mesa com a intervenção federal no Rio de Janeiro. A pauta principal seria a crise econômica, desemprego, o país ainda saindo do fundo do poço. Tivemos uma mudança radical que, agora, detém todo o interesse dos políticos, da imprensa e, principalmente, do eleitorado”. Segundo ele, as estatísticas mostram que, em vários estados, a violência cresceu em números assustadores. “Curioso que o Rio de Janeiro está em 11º lugar nesse ranking. Maceió, Aracaju e Fortaleza estão piores. Mas o Rio, pela visibilidade que tem e pela profundidade da crise, enfrenta um problema muito mais agudo.”
Na opinião de Tadeu, a intervenção está programada para durar até dezembro. Portanto, precisa dar resultados até outubro. Senão, a questão vai nortear os debates eleitorais como um fracasso do governo e não uma possibilidade de vitória para os candidatos, diz Tadeu. “O sistema vive uma crise profunda porque a criminalidade é mais rápida e muito mais rica. Tem tecnologias, jogo de cintura. O estado é mais engessado. Espera-se pelos resultados percebidos pela intervenção federal. Se forem palpáveis, com diminuição nos índices de criminalidade, aumento nas apreensões e menos pessoas assassinadas, aí, sim, vai fazer diferença no debate.”
A aposta do Ciro Gomes era de que isso daria errado, lembra Tadeu, falando que a intervenção seria um fracasso. “Agora, há um sentimento de que a população está feliz. E ele mudou o discurso. Quem não se articular, limitando-se a repetir chavões, também está fora. Em 2014, o único candidato que falou do tema em programa de governo foi a Marina Silva”, ressalta.
A ONG Human Rights Watch (HRW) também tratou do assunto durante a apresentação do relatório mundial dos direitos humanos semana passada. “Além de ser o tema principal, as soluções precisam se aprofundar. Quem vier com discurso vazio vai ficar para trás. A violência policial e o sistema prisional precisam ser os pontos principais neste debate, além da revisão sobre a política de drogas”, acredita o pesquisador César Muñoz.
Redação com CB
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