Virtuosismo moral (“grandstanding”) é o uso do discurso moral com vistas à autopromoção. Um virtuosista moral usa valores morais, como justiça, dignidade, igualdade, para se sobrepor e até silenciar alguém que discorde de seu posicionamento.
Na política, o abuso dos valores morais visa sobrepor-se ao outro em uma guerra de superioridade moral. A política se torna uma luta por “sinalização de virtude”. Na disputa pelo “lado certo da história”, o virtuosista abandona qualquer preocupação com virtude cívica e discursiva e parte para o ataque moral de seu oponente.
Não existe monopólio da esquerda ou da direita: pode-se adotar um discurso moralista agressivo e hipócrita em nome do “amor contra o ódio” ou em nome da “pátria e família”. Um virtuosista moral nem se preocupa muito com coerência nem com respeito. Tudo vale em nome da justiça social ou da guerra cultural.
A natureza humana é tribalista. Comumente, o ser humano, na busca por identidade e autoafirmação, acaba por adotar os vícios do grupo a que pertence. Por isso, passa a agir conforme a dinâmica de bolha: palavras e ações moralistas – corrompidas por agressividade e altivez – são naturalizadas.
As consequências são: escalada nas acusações, emoções mais intensas, palavras cada vez mais desmedidas, aumento da polarização e do cinismo. E o resultado é mais hipocrisia porque nenhum grupo político é moralmente puro e nem sempre age segundo os valores que professa. A hipocrisia aumenta as acusações e o ciclo se intensifica.
Obviamente, o virtuosismo moral destrói o tecido social e o debate político civilizado. Quando uma pessoa percebe a outra como a encarnação do mal, o outro é desumanizado e visto como um objeto a ser destruído. O pensamento se torna: “se o outro é o próprio mal, meu grupo representa todo o bem”. É o fim do respeito, da civilidade e do amor ao próximo.
O político populista é o mestre por excelência do virtuosismo moral. Em uma disputa de “tudo ou nada”, o político desfila moralidade em seu discurso. O político consolida seu grupo segundo um discurso monolítico voltado ao ataque moral de seus oponentes. As ideias e problemas práticos perdem espaço diante da guerra pela autopromoção de moralidade.
Para o cristão, o virtuosismo moral é muito tentador. Partindo dos bons e verdadeiros valores morais bíblicos, o cristão pode adotar uma forma de se expressar que não corresponde ao evangelho. O cristão pode, em nome de um valor moral, acabar atacando o próximo ou se autopromovendo como uma pessoa mais virtuosa. Por isso, é muito importante que, quando discutirmos sobre política, nunca esquecermos da parábola do fariseu e publicano.