O paciente de 14 anos, do município amazonense de Barcelos, que contraiu raiva humana, passou a ser considerado o segundo sobrevivente da doença no Brasil. A recuperação do adolescente foi confirmada pela Secretaria de Saúde do Amazonas (Susam). Entretanto, em nota, o Ministério da Saúde informou que ainda não recebeu todos os relatórios neurológicos do paciente, “assim, ainda não há como avaliar quais as condições e prognóstico de recuperação”.
Esse é o segundo registro de caso de paciente que sobreviveu à doença no país. O outro foi em 2008, em Pernambuco. De acordo com o Ministério da Saúde, no restante do mundo, existem relatos de apenas mais três casos de cura: dois nos Estados Unidos, em 2004 e 2011, e o outro na Colômbia, em 2008, sendo que este faleceu por outras causas associadas, após atingir a cura.
Segundo a secretaria, o adolescente foi internado no dia 2 de dezembro do ano passado, na Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT) e submetido ao Protocolo de Milwaukee, um tratamento responsável por outros casos de cura da doença registrados no mundo.
De acordo com o Ministério da Saúde, o protocolo estabelece que, após o diagnóstico laboratorial confirmado positivo, deverão ser realizadas mais três coletas de amostras para exame, um por semana, as quais serão suspensas quando houver três amostras negativas. “Só desta forma, confirma-se a eliminação do vírus no organismo do paciente”, informou, em nota.
Nesse caso registrado no Amazonas, segundo o ministério, a cura depende da eliminação do vírus rábico no organismo do paciente em tratamento e também da recuperação clínica. “Entretanto, por se tratar de doença aguda com encefalite, é esperado que tenha várias alterações neurológicas, nem sempre reversíveis. Por isso, no caso em questão ainda é precoce para se determinar o prognóstico de recuperação, embora até o momento a evolução clínica esteja ocorrendo de forma positiva”, diz a nota.
Tratamento
Segundo informou a Susam, o diretor de Assistência Médica da FMT, infectologista Antônio Magela, membro da equipe médica que acompanhou o tratamento do paciente, considera que um dos principais fatores que contribuiu para a cura foi o diagnóstico precoce da doença e a internação imediata. Magela relatou que o adolescente chegou ao hospital consciente, sem nenhum sintoma neurológico, mas foi tratado desde o primeiro momento com o Protocolo de Milwaukee, por conta do histórico de agressões de morcego.
O tratamento consiste na sedação do paciente e uso de medicações – um antiviral e outro medicamento precursor de neurotransmissores, controle da motricidade dos vasos sanguíneos do sistema nervoso central e prevenção de convulsões. No processo, o paciente é mantido em coma induzido, ventilação mecânica e cuidados intensivos de suporte à vida. As medicações foram enviadas pelo Ministério da Saúde à FMT.
De acordo com a Susam, logo nos primeiros dias de contágio, o quadro clínico do adolescente se agravou, característica da infecção viral, ficando em estado gravíssimo, mas após o período considerado crítico do vírus, passou a responder bem ao tratamento. Magela explicou que a melhora clínica tem sido progressiva. Devido à melhora, teve alta da UTI e agora está em enfermaria, tendo acompanhamento de pediatras, fisioterapeutas, nutricionista, neurologista e outros profissionais.
Apesar da recuperação, o menino deve seguir internado, por tempo indeterminado, para tratamento das complicações causadas pela raiva humana.
Dois irmãos do adolescente morreram após contrair raiva humana por mordida de morcegos, um adolescente de 17 anos, no dia 16 de novembro de 2017, e a irmã dele, de 10 anos, no dia 2 de dezembro. Os dois já chegaram em estado grave ao hospital e não resistiram à doença. Os três são da comunidade Tapiira, localizada na Reserva Extrativista do Rio Unini, entre os municípios de Barcelos e Novo Airão.
O pai de Mateus, Levi Castro da Silva, de 48 anos, celebra o resultado do tratamento, mas vive a tristeza pela perda dos outros dois filhos e a preocupação com os problemas de saúde que o filho sobrevivente agora enfrenta.
“A gente tá levando. Conseguindo com essas notícias boas da parte do Mateus ajudando um pouco a amenizar o sofrimento e a dor da saudade da separação dos outros”, disse em entrevista à Rádio Nacional.
O agricultor atribui a contaminação das crianças à falta de informação. Levi vive na região do rio Unini há 40 anos, foi mordido diversas vezes por morcego e nunca recebeu orientações sobre prevenção da raiva humana.
“Não só a vacinação, mas essa prevenção de “gente, vamos colocar o mosquiteiro, vamos fechar as casas, não deixei o morcego entrar, isso é perigoso, mostrar os tipos de doença que isso causa.”
Agência Brasil