Depois que países como Reino Unido, França, Espanha, Alemanha e Dinamarca decidiram que a covid-19 não será mais encarada com uma pandemia e passará a ser tratada como uma endemia em seus territórios, algumas pessoas interpretaram como o fim da doença. Contudo, isso ainda está longe de acontecer – e, para os especialistas, é possível que nem aconteça.
Para entender o que muda com uma classificação, o infectologista do Sistema Hapvida, Fernando Chagas, explica a situação e antecipa que no Brasil essa possibilidade ainda não é admitida, portanto os cuidados sanitários para evitar a proliferação do vírus continuam valendo. “A questão principal agora é vacinar a população o máximo possível, para que ela fique em um quantitativo muito baixo, porque quanto mais pessoas doentes no mundo, mais chances de mais variantes surgirem”, afirmou.
Classificar como uma endemia, ao invés de uma pandemia, significa, praticamente, que a doença ficará presente de forma permanente, durante anos e anos. “Significa que, infelizmente, teremos casos de covid de uma forma tal que, não mais nos livraremos da doença nem tão cedo. Passaremos a ter períodos de surtos – que é o aumento de casos de forma brusca – a cada variante com alta capacidade de transmissão”, explicou.
Mas, uma questão crucial, segundo o infectologista, é que, encarando a doença de forma endêmica cai muitas das ações que estão sendo feitas para impedir que a doença se alastre, a exemplo da obrigatoriedade do uso de máscaras e das medidas de restrições para evitar aglomerações. Essas só voltariam a ser aplicadas em casos de surtos, como o que está acontecendo agora com a variante ômicron.
Mudança longe de acontecer no Brasil – Apesar de não haver ainda um parâmetro fixo que determine quando um país poderá a mudar a pandemia para uma endemia, Fernando Chagas acredita que a mudança de classificação ainda demora a acontecer no Brasil. Para que isso pudesse ocorrer, ele julga que só poderia ser possível a partir de uma discussão entre as autoridades sanitárias do país, pesquisadores, profissionais e gestores para saber a partir de que momento o Brasil poderia começar a encarar de outra forma.
Mudança não significa menos riscos – Outra questão importante para esclarecer, conforme pontuou o especialista, é que a mudança na classificação para endêmica não significa cair riscos ou a gravidade da doença. “A malária é uma doença endêmica, mas que mata milhões de pessoas, a aids é uma doença endêmica e muitas pessoas são infectadas e perdem suas vidas por conta dela. A mudança de classificação significa apenas que devemos encará-la com uma doença permanente e que medidas como uso de máscaras , restrições de movimento e de aglomeração, caem por terra e passam a ser adotadas apenas em situações de surto”, frisou.
Entenda a diferença:
Endemia – Doença permanente, que tem duração de anos em um determinado local. Ela acaba voltando com mais intensidade de acordo com a sazonalidade. A malária, em alguns locais da África, é um caso de uma infecção endêmica.
Epidemia – Surto generalizado de uma doença numa região e em um país inteiro. É um aumento nos casos de determinada doença, seguido por um pico e depois uma diminuição. É o que acontece nos países onde as epidemias de gripe são registradas todos os anos: no outono e no inverno os casos aumentam, o máximo de infecções é atingido e depois diminui.
Pandemia – Aumento de uma doença no mundo inteiro, de uma só vez. A pandemia é uma epidemia que ocorre ao redor do mundo aproximadamente ao mesmo tempo. Ainda é considerada uma doença pandêmica há 40 anos.
PB Agora