Pouco mais de dois anos depois do início da pandemia, está claro que os problemas não terminam no fim da fase de infecção aguda pelo novo coronavírus. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que entre 10% e 20% dos pacientes considerados curados da Covid-19, por já não terem o vírus Sars-CoV-2 detectável em exames, podem apresentar alterações no organismo que os levam a desenvolver a chamada Covid longa, com sintomas que permanecem ou aparecem pela primeira vez três meses depois da infecção, afetando sua qualidade de vida e atrapalhando a produtividade no trabalho e nos estudos. Para falar sobre esse tema o portal ouviu os especialistas: o médico infectologista, Fernando Chagas; o médico Regis Goulart Rosa e o psiquiatra Geraldo Busatto.
Segundo dados da OMS, esses10% e 20% dos pacientes considerados curados da Covid-19, com alterações no organismo, representariam no Brasil, entre 2,8 milhões e 5,6 milhões de pessoas. “A gente já observa muita gente, principalmente, com quadros neurológicos, com o desenvolvimento de quadros depressivos, esquecimentos, problemas de memória e até mesmo cognitivo de aprendizado. Não é fácil mensurar ou de fato comprovar as sequelas porque, como [a Covid-19] é uma doença muito recente, a gente tem que criar protocolos que definem, de fato, o que é sequela e o que não é”, disse o médico infectologista, Fernando Chagas, destacando ainda que que vem percebendo um crescimento considerável nos relatos de mulheres com alterações na menstruação, queda de cabelo e enfraquecimento de unhas, entre outros sintomas. “Tem pessoas que estão, inclusive, desde a primeira onda em 2020 ainda sem paladar. Hoje já estão se criando alguns protocolos para ajudar [na recuperação], mas não é algo que define, por exemplo, se vai melhorar. Existem protocolos de estímulos. Tem algumas pessoas que a médio prazo isso tem ajudado”, comentou.
Sobre esse tema o médico Regis Goulart Rosa, detalha: “Hoje há estudos que listam mais de 200 sintomas, além dos mais conhecidos, como fadiga, cansaço, falta de ar e disfunções cognitivas ou psiquiátricas. Os estudos não distinguiram entre casos moderados e graves de Covid-19, mas dados da literatura científica mostram que os sintomas posteriores são bem mais frequentes em quem teve doença grave na fase aguda”, disse, destacando ainda que a pesquisa é um passo fundamental para entendermos os fatores de risco e também os fatores prognósticos relacionados às sequelas pós-Covid. Estas informações, segundo ele, podem contribuir para uma alocação mais eficiente de recursos de reabilitação no nosso contexto.
“Entre os pacientes que se recuperaram da Covid-19 moderada ou grave, 85% apresentaram pelo menos um sintoma que reduz sua produtividade ou qualidade de vida”, afirma Geraldo Busatto.
Da Redação
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