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Especial: a imprensa da PB deve ou não noticiar casos de suicídio?

Tão permanente quanto a morte, é a lacuna que ela deixa. Essa sensação é potencializada, especialmente, quando a partida não é esperada. Talvez o vazio mais acentuado resida quando se perde alguém por ter praticado o suicídio. É nesse delicado assunto, que se pode gravitar em questões éticas e sociais, observando que muito raramente os veículos de comunicação da Paraíba noticiam casos de pessoas que atentaram contra a própria vida.

 

A observação vem da jornalista e pesquisadora da temática, Cláudia Carvalho, que está concluindo a tese de mestrado na pós-graduação em Jornalismo Profissional da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), cujo título é: “O delicado lugar do suicídio no noticiário impresso paraibano”. Categórica, ela afirma que a Academia não prepara o jornalista para lidar com o tema. Não se discute abertamente em sala de aula como a notícia deve ser tratada, havendo um tabu sobre a temática que extrapola a sala de aula e chega às redações.

 

Ela afirma que essa realidade não se resume, apenas, à Paraíba. “Na verdade, o que acontece na imprensa paraibana é um reflexo do que acontece na imprensa brasileira. Há uma dificuldade em abordar o tema e ainda persiste um tabu, segundo o qual não se deve noticiar suicídios, pois acredita-se que, ao noticiar um caso, estaria levando ao surgimento de vários outros”, relata a pesquisadora.

 

A fundamentação de Cláudia Carvalho encontra respaldo em observações científicas realizadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que organizou, no ano de 2000, a feitura do “guia” intitulado: “Prevenção do suicídio: um manual para profissionais de mídia”. O material cita uma publicação de 1774. ” Os Sofrimentos do Jovem Werther”, de Johann Wolfgang von Goethe.

No romance, é possível associar meios de comunicação de massa ao suicídio. Nessa história, o herói atira em si próprio após um amor mal sucedido. Logo após a publicação, foram registrados na Europa vários relatos de jovens que cometeram suicídio usando esse método. O fenômeno originou o termo “Efeito Werther”.

 

“Efeito Werther”. Um gatilho para o suicídio

 

Em linhas gerais, o “Efeito Werther” provoca o que se chama de “suicídio copiado”, quando alguém tira a sua vida e a publicização  do ocorrido serve como um gatilho para o próximo suicídio. Em geral, o ato é praticado por uma pessoa fragilizada, portadora de problemas emocionais ou transtornos de comportamento que levam, por exemplo, à depressão profunda.

 

A psiquiatra Francineide Maciel, com 18 anos de experiência na área de saúde mental, entende a importância do estudo da pesquisadora paraibana, e responde não ter dúvidas que uma notícia sobre um suicídio, enfocando o ato em si como forma de espetacularização do fato é danosa. Ela aponta que, ao oferecer detalhes do suicídio, relatar o conteúdo de cartas de despedidas ou mostrar a técnica utilizada para retirar a vida, na verdade é um desserviço da mídia.

 

“Existem estudos sérios quanto esse assunto. É um fenômeno mundial. Deve-se ter cuidado ao noticiar”, alertou a médica-psiquiatra, analisando que, bem mais importante que detalhar fatos e “romantizar” o suicídio na mídia, é discutir e levantar questões sobre o problema nos meios de comunicação.

 

A imprensa cessou os desafios da “Baleia Azul”

 

Para Cláudia Carvalho e Francineide Maciel, os veículos de comunicação cumprem seu real papel quando abordam o suicídio como um problema social que precisa ser discutido com responsabilidade. Ambas citam os casos da “Baleia Azul” e da “Boneca Momo”, desafios postos na internet que redundaram em suicídios e crimes entre crianças e jovens.

 

“A imprensa deu publicidade, levou a discussão do assunto para a sociedade, para os pais, e alertou as autoridades sobre os perigos vindos de mentes doentias que incitavam jovens e crianças para esses absurdos”, observou Francineide Maciel, para em seguida afirmar que tais “desafios” foram cessados e muitos dos responsáveis presos graças ao papel dos meios de comunicação.

Informações que salvam vidas

 

O suicídio acontece por uma conjunção de muitos fatores, explica psiquiatra Francineide Maciel. Alguns deles são sociais, psicológicos, orgânicos e genéticos. Mas os motivos predominantes são transtornos psiquiátricos, sendo o mais comum a depressão. Também há o transtorno bipolar, a esquizofrenia, a síndrome de Borderline e o abuso de drogas.

 

“Todos eles têm tratamento, inclusive na rede pública. São informações importantes para constar numa reportagem realmente informativa”, diz a médica-psiquiatra. Em termos gerais, quando o suicídio é consumado, principalmente quando a pessoa é uma figura pública, deve-se trazer à tona como o suicida estava se sentindo ao praticar o ato, se ele apresentava sinais de depressão, por exemplo. Isso pode ajudar outros na mesma situação na busca de ajuda”, recomendou Francineide Maciel.

 

Eliabe Castor

PB Agora

 


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