A pandemia tem sido uma guerra. Protocolos de biossegurança, decretos e a corrida pela vacina. A batalha tem sido desgastante. E desumana. Além de desmantelar a rede pública de saúde de algumas cidades, a Covid-19, levou à exaustão física e emocional, os profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate ao vírus. Nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), médicos, enfermeiros, infectologistas e outros profissionais de saúde, travam uma luta para vencer um inimigo invisível e traiçoeiro ,que já ceifou a vida de mais de 470 mil óbitos, sendo que na Paraíba, o número de vidas perdidas já ultrapassou as 7.700 mortes.
Em meio a essa batalha, em que cada segundo pode representar uma vitória da vida, ou derrota para o vírus, pesquisadores da Paraíba recorreram à ciência e à tecnologia para desenvolverem várias ideias voltadas para a proteção dos profissionais de saúde no enfrentamento da pandemia e auxiliar no tratamento.
Capacete para evitar intubação, ventilador pulmonar, máscara cirúrgica biodegradável, protetores faciais, são algumas das invenções desenvolvidas por universidades da Paraíba durante a pandemia e que tem ajudado a salvar vidas. O PB Agora ouviu alguns desses pesquisadores, que tem usado a ciência, a engenharia, a tecnologia e a inteligência para amenizar os dados de uma crise sanitária sem precedentes na história.
Alguns dos inventos foram desenvolvidos em tempo recorde pelo Núcleo de Tecnologias Estratégicas em Saúde (Nutes) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Desde o aparecimento da doença na Paraíba, o NUTES desenvolveu 9 projetos ligados diretamente ao combate à pandemia.
Um desses projetos que já está ganhando repercussão nacional, é o protetor facial desenvolvido para profissionais da saúde que trabalham na linha de frente no enfrentamento da Covid-19. A iniciativa de produção dos protetores faciais (face shields) foi do Laboratório de Tecnologias 3D (LT3D) que, no início da pandemia, percebeu no mercado a falta dos equipamentos de proteção individual para os profissionais de saúde.
O projeto foi fruto de uma parceria entre o NUTES e uma empresa privada e tem o apoio do Governo do Estado por meio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (FAPESQ).
Os dois pesquisadores responsáveis pela iniciativa, Rodolfo Castelo Branco,Yasmyne Martins, conversaram com exclusividade com o PB Agora e detalharam a relevância da iniciativa neste tempo de pandemia.
“Eles serão feitos por meio de impressão 3D para auxiliar na proteção dos profissionais de saúde durante a pandemia do novo coronavírus” explicou o engenheiro Rodolfo.
Uma das vantagens dos protetores faciais paraibanos, é a alta resistência que possibilita que eles sejam reutilizados. O pesquisador explica que o material empregado no equipamento favorece no processo de higienização e o torna bem mais seguro do que alguns protetores disponíveis no mercado.
O modelo é semelhante ao usado por médicos na China e em outros países e dá maior proteção. Com esse equipamento, o médico pode usar a máscara por mais tempo, o que garante maior proteção do vírus dentro das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).
“Com esse protetor os profissionais de saúde poderão usar as máscaras N95 por mais tempo na luta contra o Covid-19, pois vai funcionar como um protetor destas máscaras, que já começam a faltar no mercado”, afirmou Yasmyne Martins que coordena o Laboratório 3 D e também está a frente do projeto.
O pesquisador explicou que o equipamento é confortável e leve e facilita na esterilização.
“São protetores que podem ser reutilizados. Os profissionais podem fazer a esterilização, como também fazer a higienização desses protetores” observou.
Para desenvolver os protetores faciais e atingir o patamar de produção em grande quantidade, a equipe do Nutes firmou uma parceria com o Grupo Duraplast de Campina Grande. A empresa ficou responsável por todo o processo de produção das hastes plásticas, feito por meio de injeção de polipropileno a partir de um bloco de modelagem desenvolvido pelo Nutes.
A parceria possibilitou a impressão em escala industrial, o que aumentou a produção deste EPI para cerca de duas mil unidades diárias, e consequentemente, a doação de grande quantidade para os hospitais.
Ao todo, já foram produzidos e distribuídos gratuitamente, mais de 60 mil protetores faciais, para profissionais que atuam diretamente na linha de frente com pacientes da Covid19, na região nordeste, principalmente na Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
A pretensão dos pesquisadores é expandir os protetores faciais para todo o Brasil. O engenheiro Rodolfo enfatizou que algumas instituições já entraram em contato com o Nutes, e manifestaram interesse em adquirir o equipamento.
Rodolfo Castelo Branco disse que tem sido uma experiência gratificante e compensadora, liderar um projeto de tamanha relevância e que tem ajudado aos profissionais de saúde que estão na linha de frente do enfrentamento da Covid.
“É motivo de alegria, saber que estamos contribuindo para amenizar os efeitos de uma doença tão devastadora!” comentou.
Protetor infantil salvando vidas na Paraíba
Ao menos 899 bebês com menos de 1 ano morreram ano passado no País vítimas de covid-19. Como os bebês não são do grupo de risco, os especialistas acreditam que a falta de protocolos para atendimentos a grávidas e recém nascidos e as fragilidades do sistema de saúde explicam a elevada quantidade de óbitos.
Em meio às dúvidas e crescente estatística de morte, os pesquisadores da Paraíba resolveram intervir na tentativa de conter o avanço da doença. A iniciativa também foi do LT3D do Nutes que produziu, em impressão 3D, protetores faciais para recém-nascidos.
A pesquisadora Yasmine Martins, que está a frente da pesquisa, contou ao PB Agora que o equipamento seguiu todo o processo do protetor adulto, sendo feito na medida para recém nascidos.
De acordo com o coordenador técnico do LT3D, Rodolfo Castelo Branco, e que também participou do projeto, o equipamento de proteção e prevenção foi pensado baseado nos princípios anatômicos customizados e ajustáveis, respeitando os critérios de conforto e leveza através da engenharia biomédica.
O equipamento já está sendo usado pela rede hospitalar paraibana, e também pode ser exportada em breve para outros estados.
Segundo a pesquisadora, cerca de 400 protetores faciais já foram distribuídos para recém-nascidos da UTI Neonatal do Hospital Edson Ramalho, em João Pessoa, bem como para maternidades de toda a Paraíba.
Para fazer a distribuição dos equipamentos, os pesquisadores fizeram um levantamento da quantidade de leitos infantis existentes nos hospitais e maternidades da Paraíba.
Como os equipamentos são reutilizados, os pesquisadores acreditam que até o momento, eles continuem beneficiando a vida dos recém nascidos internados em hospitais e maternidades da Paraíba.
Dispositivos de videolaringoscopia para evitar óbitos
Na ala Covid do Hospital de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes em Campina Grande, a correria é intensa. O aumento das internações de pacientes infectados com o vírus, mobiliza toda uma equipe médica. A batalha é para salvar vidas. E cada segundo vale muito.
Por ser uma doença infecciosa a Covid-19, ataca diretamente os pulmões. Sem ar para respirar naturalmente, muitos pacientes são intubados.
Na luta para vencer esse mal que já enlutou milhares de famílias, a equipe médica do Trauma ganhou o reforço de um importante aliado. Trata-se do dispositivo de videolaringoscopia, em impressão 3D, que pode evitar o óbito.
Esse equipamento, também desenvolvido pelo Laboratório de Tecnologias 3D do Nutes, é essencial para facilitar a intubação de pacientes que apresentam insuficiência respiratória grave ou refratária, comum nos casos mais graves de pessoas com Covid-19. Coordenador da Ala Covid no Trauma, Rafael Heleno, disse que os equipamentos tem auxiliado os profissionais de saúde na luta contra o vírus, e ajudado no tratamento dos pacientes em estado grave.
“As universidades tem realizado um grande trabalho e contribuído de forma decisiva para o trabalho dos profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate ao Covid” disse.
A peça, conforme pesquisadora Yasmyne Martinsfoi, ao PB Agora, foi inspirada no modelo tradicional e ainda no Airangelblade, também impresso em 3D e adaptado para uso de sonda câmera boroscópio (câmera adaptada para uso acoplado em smartphone).
O equipamento reduz os riscos da intubação, porque facilita a visualização e agiliza o procedimento, bem como garante muito mais segurança ao médico, que não precisa realizar o procedimento próximo da boca do paciente infectado.
“Esse equipamento faz a intubação do paciente. O diferencial é que o laringoscópio pode acoplar uma câmara para ajudar o médico a acompanhar o caminho que o equipamento faz na intubação do paciente. Ele acopla o equipamento e pode ficar vendo todo o momento pela tela do celular ou pelo monitor normal” explicou.
Segundo a pesquisadora, esse procedimento diminui as lesões durante as intubações de pacientes.
Alguns dos equipamentos já estão sendo utilizados no Hospital de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes em Campina Grande, justamente pela rotatividade de pacientes que estavam sendo entubados e não estava dando tempo de fazer a esterilização desses dispositivos.
“Então, pela tecnologia em impressão 3 D a gente consegue ter em grande quantidade e ele pode inclusive ser utilizado ou descartado devido o seu custo ser menor” observou.
Ventilador pulmonar para controlar a insuficiência respiratória
Imagine um equipamento fundamental para manter a vida do paciente durante o tempo em que ele não consegue fazer sozinho o movimento respiratório. Esse equipamento existe e foi desenvolvido por pesquisadores da Paraíba na tentativa de reduzir as estatísticas de mortes pela Covid. O ventilador pulmonar mecânico, essencial para a manutenção da vida em casos de deficiência em atividades cardiorrespiratórias, como a insuficiência respiratória, comum nos pacientes graves do novo coronavírus, promete ser mais um aliado dos médicos nesse tempo de pandemia, quando o sistema público de saúde corre o risco de colapso devido a quantidade de internações.
O projeto, que atesta que na Paraíba é possível produzir tecnologia de alto nível , está em fase de finalização.
Desenvolvido pelo pesquisador do Nutes da UEPB, Misael Morais com ajuda de outros pesquisadores, o ventilador pulmonar é essencial para a manutenção da vida em casos de deficiência em atividades cardiorrespiratórias, como a insuficiência respiratória, comum nos pacientes graves do novo coronavírus.
O ventilador mecânico já recebeu a carta patente e a perspectiva é que dentro 60 dias esteja com o design finalizado, pronto para ser produzido e posteriormente colocado à disposição do mercado. O modelo de equipamento envolve uma interface do usuário que possibilita a manipulação de diferentes variáveis utilizadas no tratamento por parte do profissional na UTI.
O projeto, praticamente finalizado, surgiu diante da necessidade do uso do equipamento em hospitais que tratam de pacientes da Covid-19 e da dificuldade de aquisição por parte dos órgãos de saúde em virtude da pandemia, do alto valor de aquisição, bem como da demanda necessária.
. O modelo de equipamento envolve uma interface do usuário que possibilita a manipulação de diferentes variáveis utilizadas no tratamento por parte do profissional na UTI.
“O equipamento é fundamental para manter a vida do paciente durante o tempo em que ele não consegue fazer sozinho o movimento respiratório”, explicou o professor Misael Morais, coordenador geral do Nutes e um dos idealizadores do projeto.
O tempo de finalização do projeto foi de menos de um mês. Segundo os pesquisadores do Nutes, duas semanas foram dedicadas ao desenvolvimento do projeto e testes de componentes. E mais uma semana para finalização do protótipo, que agora vai iniciar os testes clínicos, regulatórios e depois seguir para produção em escala industrial. O tempo recorde se deu devido à necessidade de um equipamento produzido nessas condições para atender à saúde pública.
“Temos trabalhado intensamente para apresentar essa solução com rapidez. Estamos numa guerra contra o vírus e temos que ser rápidos no desenvolvimento de produtos que possam contribuir com os órgãos de saúde”, destacou o outro idealizador do projeto, professor Misael Morais, doutor na área de Processamento da Informação e coordenador geral do Nutes.
O ventilador pulmonar do Nutes priorizou a utilização de peças encontradas no mercado local. Isso porque, conforme explicou o professor Misael Morais, a compra de materiais em outros centros atrasaria a montagem e precisávamos ser rápidos numa resposta ao problema da falta desse equipamento.
O ventilador vai iniciar os testes clínicos, regulatórios e depois seguir para produção em escala industrial. A aprovação no edital da Fapesq-PB vai possibilitar o refinamento do projeto.
“O investimento do Governo do Estado em soluções desenvolvidas na Paraíba visa incentivar o desenvolvimento de tecnologias nacionais, uma diminuição da dependência de outros países, principalmente da China. Vimos nesta pandemia que a desindustrialização não foi benéfica para o país”, comentou Widson Gomes de Melo, pesquisador do Nutes e um dos idealizadores do projeto.
Elogios do Ministro da Saúde
Durante a recente visita à Paraíba, o Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga conheceu o projeto de ventilador pulmonar de baixo custo desenvolvido pelo Nutes, e fez elogios à iniciativa.
“A Parceria para o desenvolvimento produtivo é muito importante porque além de fornecer equipamentos de ponta que salvam vidas dos brasileiros, há também a transferência de tecnologia para uma instituição pública. Os softwares de controle da obesidade infantil e de monitoramento de idosos também são de suma importância no contexto atual” destacou.
O projeto do ventilador pulmonar, denominado de RespNutes, foi selecionado no edital da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB) da Secretaria de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia (SEECT).
Os pesquisadores esperam disponibilizar no mercado, ainda este ano, um equipamento simples, barato, mas que possa reduzir as estatísticas de mortes da Covid-19.
Capacete para salvar vidas
Oxigênio, tecnologia e vida. Dentro de um dos maiores hospitais de João Pessoa, a rotina tem sido desgastante e exaustiva para a equipe médica. A rotina, inteiramente nova para profissionais acostumados a lidar com o limite entre a vida e a morte, inclui cuidados na hora de retirar os EPIS, como capuz e da máscara N-95, usada por médicos e enfermeiros.
Enquanto médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde, travam nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), uma batalha exaustiva para salvar vidas, os pesquisadores da Paraíba não param de trabalhar. O esforço da engenharia é para dotar as unidades de saúde de equipamentos que tornem menos árdua a missão da equipe médica contra a Covid-19.
Uma dessas iniciativas partiu do Laboratório de Fabricação Digital (FabLab) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Usando a ciência e a tecnologia, eles desenvolveram um capacete que ajuda na ventilação para pacientes com Covid-19 e que estão em estado grave. Trata-se de um dispositivo de suporte ventilatório não invasivo capaz de manter uma pressão positiva contínua nas vias aéreas através da oferta de alto fluxo de oxigênio e ar medicinal, reduzindo consideravelmente o esforço respiratório do paciente.
O equipamento auxilia na ventilação e pode até evitar a intubação dos pacientes em situação mais grave.
O capacete de ventilação não invasiva (VNI), também chamado de Elmo, é uma versão do equipamento que surgiu na Itália no período mais crítico da pandemia no ano passado, e pode ser utilizado em pacientes com debilitações respiratórias menos graves e que estejam lúcidos. que contribui na ocupação de leitos de UTI por pacientes em estado crítico de saúde.
De acordo com o coordenador do FabLab, Euler Macedo, o modelo é uma alternativa de tratamento clínico para a Covid-19, diante da escassez de aparelhos de ventilação no mercado e pode ser usado em pacientes com necessidade de suporte ventilatório. Além do engenheiro Euler, atuam na inovação os pesquisadores Alberto Oliveira Filho, Luiz Regis e infectologista Eliauria Martins que chegou a coordenar a pesquisa.
Com a utilização do capacete, os pesquisadores pretendem disponibilizar uma alternativa de ventilação não invasiva, com geração mínima de aerossóis, possibilitando oferecer oxigênio e pressão positiva sem realizar a intubação orotraqueal, reduzindo, assim, as possíveis complicações geradas pela ventilação mecânica.
O protótipo desenvolvido pelos pesquisadores paraibanos foi feito com um capuz manufaturado de PVC, anel fabricado com impressora 3D, membrana de vedação cervical adaptada de balão látex, conectores de saída e entrada de gases feitos com tubos de PVC.
O médico Alberto Oliveira, um dos responsáveis pelo projeto, explicou que o objetivo do capacete é evitar a intubação em um estado inicial ou moderado da doença. Essa tecnologia pode ajudar a diminuir o número de ocupação das UTIs, um dos problemas que tem ameaçado o colapso do sistema público de saúde.
O médico observou que já é feito em João Pessoa, a terapia com ventilação não invasiva com uso de máscaras. No entanto, a máscara tem um tempo de uso limitado, podendo ser usada até duas horas. O capacete tem a vantagem porque pode ficar por tempo indeterminado no paciente. O paciente só precisa retirar o equipamento quando melhorar o estado clínico.
Uma das vantagens do capacete de ventilação, conforme revelou ao PB Agora, o médico infectologista Fernando Chagas, é que ele não precisa necessariamente estar ligado a um respirador mecânico, podendo em um leito comum, ser acoplado diretamente na rede de oxigênio do hospital.
Para chegar às unidades de saúde da Paraíba e de todo o Brasil, é necessário a homologação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O aparelho já foi submetido ao comitê de ética do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) da UFPB e à Anvisa. A burocracia da Anvisa em analisar os documentos exigidos, atrasou o projeto.
Ao PB Agora, o coordenador do FabLab, Euler Macedo explicou que desde o início da pandemia, os pesquisadores iniciaram o projeto de manufatura do capacete, e foi iniciado o processo de homologação junto a ANVISA. Por enquanto, o capacete está sendo produzido de forma experimental.
“Queremos produzir em massa, mas com nossa capacidade não temos como produzir muitas unidades. Temos toda a tecnologia para produzir o capacete em larga escala, mas ainda estamos aguardando a homologação da Anvisa” observou o engenheiro.
O FabLab tem um projeto para a produção do capacete em massa que iniciou no ano passado. No entanto, interrompeu a produção por conta de alguns prazos da Anvisa. O Laboratório tem capacidade de entregar até seis capacetes por dia. Outra vantagem é o custo. No FabLab da UFPB, ele custa R$ 100, sendo que no mercado, o mesmo equipamento pode custar até R$ 1.500.
“É uma técnica efetiva e de baixíssimo risco e custo para reduzir a mortalidade geral da doença, e que podemos sim, produzir para todo o Brasil”, disse.
O professor Euler Cássio ressalta que, embora o processo de fabricação seja simples, a equipe ainda está em busca de parceiros que possam aumentar a capacidade de produção após a regulamentação pela Anvisa.
Com equipamento pronto, os pesquisadores pediram autorização à Anvisa para seguir trabalhando no projeto e iniciar testes com pacientes, o que foi permitido.
A pouco mais de um mês, os capacetes começaram a ser utilizados em forma de teste, em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Universitário Lauro Wanderley , no Hospital Alberto Urquiza Wanderley, no Hospital Clementino Fraga e no Hospital Metropolitano de João Pessoa. Esta versão foi testada por meio da conexão do protótipo a um suporte ventilatório mecânico.
Os resultados surpreenderam, conforme garantiu o pesquisador Euler. Não houve intercorrências e foi constatada viabilidade. Até o momento, o equipamento foi utilizado em cerca de 30 pacientes na enfermaria.
O médico anestesiologista Gilvandro Lins, garante que há benefícios no equipamento, mas é preciso mais tempo e dados para atestar a eficácia do equipamento.
Um estudo desenvolvido pelo Hospital, já está em execução, e visa atestar os benefícios do equipamento, antes de autorizar a produção em larga escala. A perspectiva é que o estudo seja finalizado nos próximos meses.
Os pesquisadores acreditam que o capacete Elmo, versão paraibana, poderá reduzir em até 60% as internações em leitos de UTI. Isso porque ele pode fazer com que o paciente se recupere da insuficiência respiratória, sem a necessidade de internação em um UTI e do uso de um ventilador mecânico.
O diretor Clementino Fraga, o médico infectologista Fernando Chagas, destacou os benefícios do equipamento nos primeiros testes. Ele explicou que o VNI fica hermeticamente fechado no pescoço do paciente. O médico que atua na linha de frente da Covid, observou que os tubos conectados em outro aparelhos, jorram oxigênio até os tecidos mais distantes dos pulmões e mais acometidos pela doença.
O infectologista garantiu que o equipamento diminui o sofrimento respiratório do paciente, melhora o padrão de respiração e ainda tem a vantagem de não permitir que partículas virais sejam jogadas no ar, dando assim, segurança aos profissionais de saúde.
Em um vídeo gravado para o PB Agora, o médico também enalteceu o esforço e a luta dos pesquisadores que tem usado a ciência e a tecnologia para desenvolver os dispositivos essenciais para a guerra contra a Covid.
Máscara com maior resistência ao vírus
Desde o início da pandemia do Covid-19, há mais de 1 ano atrás, os epidemiologistas, infectologistas e demais autoridades sanitárias, garantem que a máscara é um dos meios eficazes para evitar a disseminação do vírus.
Uma inovação típica de Campina Grande, no Agreste da Paraíba, torna ainda mais eficiente o efeito da máscara na batalha contra o vírus. Trata-se da produção de uma máscara cirúrgica biodegradável, com material capaz de reter o vírus da covid-19 (SARS-CoV-2) e matá-lo, desenvolvida pelo Laboratório de Avaliação e Desenvolvimento de Biomateriais do Nordeste (Certbio), do curso de Engenharia de Materiais, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
Considerada como a mais importante invenção no enfrentamento ao novo coronavirus, sendo superada apenas pela vacina, a máscara desenvolvida por pesquisadores da UFCG está dando o que falar no Brasil.
A invenção, fruto do projeto “Proteção no Combate à Covid-19: Inovação no desenvolvimento de Máscara Cirúrgica”, foi desenvolvida por um grupo de 12 pessoas que atuam no Certbio, O projeto é chefiado pelo professor Marcus Vinícius Lia Fook e utiliza um material capaz de reter o vírus da covid-19 (SARS-CoV-2) e matá-lo. Ao contrário de outros materiais comumente usados em máscaras cirúrgicas, a quitosana é biodegradável.
O professor Marcus garantiu em entrevista ao PB Agora, que a máscara é descartável mas tem durabilidade segura de até 24 horas seguidas de uso, e não precisa ser trocada a cada três horas como as demais.
Ele revelou que a máscara cirúrgica se torna especial por utilizar um elemento chamado quitosana que impede totalmente a contaminação, através do vírus, e ainda promove o extermínio do novo coronavírus.
O pesquisador disse que o uso da máscara em hospitais públicos foi recomendado pelo Ministério Público do Trabalho. Antes de disponibilizar para as unidades de saúde, a equipe envolvida no projeto fez uma rigorosa avaliação e os ajustes para atender as normas da Anvisa.
Ao contrário de outros materiais comumente usados em máscaras cirúrgicas, na experiência desenvolvida no Certbio, foi aplicada a quitosana é biodegradável, conforme destacou o professor Marcus Vinícius Lia Fook. A quitosana atua como bactericida, fungicida.
“Outro diferencial dessa máscara é que ela é biodegradável. Depois do uso não causa danos ao meio ambiente “, observou.
A quitosana é obtida de exoesqueletos (esqueleto externo) de crustáceos, insetos ou fungos. A matéria prima usada pelo Certbio é a casca do camarão, facilmente encontrado na costa nordestina; além disso, a Paraíba tem a maior usina de beneficiamento de camarão do Nordeste. É um elemento com potencial para o desenvolvimento econômico da região.
O cientista deixa claro que a quitosana não trata a covid-19, mas auxilia de forma eficaz porque não permite que o vírus passe por ela. É um bloqueio químico. A máscara, por si só, é um bloqueio físico, mas com a quitosana, ganha um reforço e se torna um bloqueio químico.
Integrante do projeto, a estudante Denise Medeiros, reforçou que a grande diferença da máscara em relação às demais usadas pela população, é que além da camada física, a máscara também vai oferecer uma camada química. Com isso, a pessoa que estiver utilizando vai ter uma proteção extra contra o vírus.
A pesquisadora falou da alegria de fazer parte de um projeto tão relevante.
“É gratificante saber que um produto que estou ajudando a criar pode salvar vidas, enquanto esperamos pela vacinação. Lembro que bem no início do projeto, assim que a pandemia “estourou” e tudo estava fechado, vínhamos ao laboratório e muitas vezes saímos daqui tarde da noite. Era cansativo, mas acreditávamos no potencial do nosso produto em proteger as pessoas do vírus”.
A pesquisadora Alane Alves, é responsável por fazer os testes que comprovam se realmente a barreira formada com a máscara, protege o usuário do novo coronavírus. Ela garantiu a eficácia do experimento. A máscara, segundo ela, realmente funciona como barreira que impede a passagem do vírus.
“Já que estamos produzindo as máscaras, a gente está fazendo testes com um aparato experimental para tentar avaliar qual é a eficácia do material. Então, com análise de microscópio , identificar a retenção e absorvição de partículas da mesma ordem do vírus” explicou.
Formada em Física, a doutoranda em Engenharia de Materiais, Alane Alves disse que está feliz em fazer parte de um projeto de pesquisa tão relevante que pode contribuir com a sociedade no momento de uma crise sanitária sem precedente na história.
“Fico feliz enquanto pesquisadora em contribuir com a sociedade em um momento tão delicado”, disse.
Na primeira etapa do projeto, os pesquisadores adequaram algumas máscaras para serem usadas por profissionais de saúde que atuam na linha de frente de combate ao Covid-19 no Hospital de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes.
Depois, com o apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (FAPESQ), preparou um lote de 10 mil máscaras, Essas máscaras ainda serão distribuídas junto a FAPESQ e Secretaria de Estado da Saúde (SES), para posteriormente, serem disponibilizadas para hospitais do Estado.
Acesso à população
Por enquanto as máscaras ainda não estão disponíveis para a população. A ideia inicial é produzir lotes para abastecer os hospitais da rede pública de saúde.
A população terá acesso a essa tecnologia indiretamente. Segundo Marcus Vinícius, uma empresa da Paraíba está interessada em aplicar essa tecnologia em leitos hospitalares, nas roupas de cama, nos utensílios e aparelhos, o que dará uma proteção adicional. Da mesma forma, a empresa está interessada na produção das máscaras para distribuição hospitalar, não só na Paraíba, mas em outros estados.,
A pretensão é que futuramente essa tecnologia possa chegar às mãos da população em geral, não apenas nos hospitais que estão utilizando a máscara como parceria.
Enquanto a vacina não avança, e os infectologistas e as autoridades sanitárias e epidemiologistas reforçam a população a importância de seguir os protocolos de biossegurança, os pesquisadores seguem em ritmo acelerado, desenvolvendo ideias e projetos para diminuir o impacto da pandemia e ajudar a salvar vidas.
Severino Lopes
PB Agora
