Em depoimento a mídia paraibana o conselheiro do Conselho Regional de Medicina (CRM-PB), Arlindo Monteiro de Carvalho Junior, disse que apenas o “fique em casa”, como medida isolada em discurso simplista, teve sua eficiência recentemente questionada na Itália e em Nova Iorque.
Segundo ele, apesar de tratar-se de medida importante, está deve se tomada em conjunto com outras muitas ações de combate à Covid-19. “Pois bem, onde estão as demais ações dos gestores estaduais e municipais ao longo destes preciosos 60 dias de isolamento social?”, questiona o conselheiro.
1- Ampliação de leitos (sabidamente insuficientes e sempre usados como discurso político/eleitoral antes da pandemia). Quantos, onde, cadê a planilha e os números?
2- Testagem massiva da população. Os testes são confiáveis? Não usar os resultados para aterrorizar a população, porque a doença está aí e já tem muita gente curada, não testada.
3- Fornecer os EPIs, treinamento e remuneração adequados aos profissionais de saúde, principalmente os de enfermagem. Vergonhoso o que se oferece.
4- Testar os profissionais de saúde a cada 15 dias, afastar e remunerar os que adoecem, para não contaminarem os outros dentro dos hospitais e diminuir a força de trabalho.
5- Instituir seguro e propor vínculos menos precários aos que trabalham no combate à pandemia. Contratação via Pessoa Jurídica (PJ) e contrato por CPF sem garantias é mais uma vergonha instituída.
6- Determinar que as forças de segurança, que, aliás, apareceram em quantidade extraordinária nas ruas – nunca vi isso nos tempos comuns, ao contrário de ameaçar prender as pessoas de bem, distribuam máscaras e orientem as medidas de distanciamento social, apliquem questionários para obter informações da população que está circulando, em que meio circulam, qual sua renda, nível de instrução, motivo da circulação, quais suas dificuldades no enfrentamento da doença e como o governo pode ajudar. Dados importantes para ajustar politicas públicas, principalmente pós-pandemia.
7- Providenciar, de acordo com protocolos já existentes, muitos oriundos de órgãos e instituições de respeito como universidades e alguns Conselhos Regionais de Medicina, o uso das medicações preconizadas, já na atenção primária e no tratamento dos casos iniciais ou leves, não esperar os pacientes piorarem simplesmente mandando-os para casa como está ocorrendo.
8- Providenciar um programa de captação do sangue dos pacientes curados, muitos deles gratos e dispostos a colaborar, para extrair o plasma e ajudar no tratamento dos que estão graves nas UTIs. Os grandes hospitais de SP, para onde correm os que têm mais recursos, estão fazendo isso. Temos estrutura de Hemocentro e não é caro.
9- Elaborar fluxos de atendimento mais inteligentes, tanto para a Covid como para as demais doenças, principalmente para os portadores de câncer e de doenças cardiovasculares. Criação de fluxos Covid free, desde o atendimento básico até os hospitais livres de Covid-19. As outras doenças continuam matando as pessoas, silenciosamente, abafadas pela falta de atenção da imprensa e pelo bate cabeça dos gestores.
10 – Providenciar protocolos específicos para o funcionamento de comércios de baixo e até de médio risco, como óticas, barbearias, salões de beleza, barraca de coco, etc. Sim, dá trabalho, mas é preciso pesquisar, estudar. As pessoas estão precisando de renda, na clandestinidade e sem orientação, carentes de apoio e de normas. Vai sair mais caro não regulamentar.
“Por fim, sejam mais proativos e, mesmo de seus home-offices remunerados pelo contribuinte, observem melhor as experiências dos outros países, dialoguem com os setores e construam soluções viáveis. É complexo mesmo, tem as especificidades, mas é possível ir além do discurso único simplista que apenas transfere responsabilidades e culpa para a população, pois, se quase tudo é duvidoso, sejamos coerentes, adote-se tudo que estiver ao alcance e não esconda sua falta de competência atrás do ‘fique em casa’”, disse.
Redação