Jovens que passam mais de três meses sem trocar as escovas dentárias, famílias sem acesso às escovas de dentes e irmãos que dividem diariamente o mesmo material de limpeza dental fazem parte do grupo de 58% dos 3.641.395 paraibanos, ou seja, 2.112.009 habitantes, baseado nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números da deficiência no acesso aos produtos de higiene bucal e uso inadequado dos itens de limpeza da boca, referente a 2008, estão inseridos em uma pesquisa do Ministério da Saúde.
Francisco Cavalcanti de Brito Neto, 20 anos, costuma visitar o dentista, ao menos, a cada dois meses para consultas de rotina e saber como anda a saúde bucal. Ele conta que, desde 2005, começou a usar aparelhos dentários para corrigir má formações nos dentes. O uso da estrutura metálica deu certo. Contudo, o jovem não conseguiu mudar alguns hábitos necessários para a evolução do tratamento: trocar a escova de dentes a cada três meses.
“É um mau hábito que eu preciso deixá-lo. Eu sei que preciso trocar a escova de dentes trimestralmente. Meu dentista diz isso sempre. Mas eu reconheço que não sigo os conselhos por desleixo. Às vezes eu até tento. Começo a contar o tempo que comecei a usar a escova, porém depois esqueço e acabo só mudando o material quando eu perco a escova ou vejo que não dá mais para escovar os dentes devido ao desgaste das cerdas”, contou Francisco Cavalcanti de Brito Neto.
De acordo com o chefe do Núcleo de Ações Estratégicas da Secretaria de Saúde da Paraíba, Marcílio Araújo, o que acontece com o jovem Francisco Cavalcanti independe de classes sociais. Famílias ricas e pobres acabam deixando de lado os cuidados adequados com a limpeza dos dentes. Entre eles, a substituição do material de limpeza dentária. “A escova de dente precisa ser trocada, em média, a cada três meses. Mas ela acaba sendo usada por seis meses, um ano e até mais que isso. O resultado é que ela fica desgastada e não faz a limpeza bucal adequada. Isso se torna pior nas famílias pobres. Algumas não têm condições de comprar a escova e o creme dental”, declarou.
As famílias sem acesso a escova e creme dental são mais um problema comum na Paraíba. O chefe do Núcleo de Ações Estratégicas da Saúde lembrou que existem lares em que pais e filhos não possuem o material básico de higiene bucal por conta da falta de dinheiro. Para esses paraibanos, utilizar antisséptico bucal se torna algo de luxo dentro das casas. Há ainda outras dificuldades encontradas pela população carente. A escova – artigo de higiene pessoal – chega a ser comunitária. “Nós sabemos que existem famílias em que até três irmãos usam a mesma escova dentária diariamente”, exemplificou Marcílio Araújo.
O levantamento realizado pelo Ministério da Saúde indicou que, em 2008, 58% dos 183,9 milhões de brasileiros não tinham acesso adequado às escovas de dente. O total da população é baseado em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O número inclui pessoas que consumiram o produto de forma esporádica, inadequada – quando o uso da mesma escova é feito por um período muito prolongado – e também brasileiros sem acesso algum. Os percentuais obtidos no estudo nacional também podem ser aplicados à realidade da Paraíba. Todavia, será feito um detalhamento futuro no Estado sobre a situação do acesso e uso do material de limpeza bucal. “Os números do Ministério da Saúde refletem a realidade da Paraíba. No entanto, não existe um levantamento epidemiológico, neste sentido, realizado no Estado. Em 2010, vai acontecer um estudo de saúde bucal no Brasil, que vai tratar sobre tudo que se refere à parte odontológica”, observou Marcílio Araújo.
Jornal da Paraíba