As águas da Amazônia seguem surpreendendo pela imensidão e pela diversidade de vida. Mesmo em fluxos mais lentos, como o tempo da ciência. Em 1997, a pesquisadora Ilse Walker encontrou, por acaso, em poças quase secas do igapó do Rio Tarumã-mirim, em Anavilhanas, um peixe com características distintas de outros peixes ósseos. Vinte anos depois, colegas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e outros cientistas descobriram que se tratava de uma nova espécie animal, identificada como Tarumania walkerae, em homenagem à pesquisadora, hoje aposentada.
“Ele tinha forma de peixe cartilaginoso, mas possuía escamas. Por isso, achei que fosse algo muito diferente. Ser uma família nova de peixes foi extraordinário”, conta Ilse Walker, 87 anos. Ela conta que, à época, não percebeu que havia coletado o peixe enquanto pegava camarões no rio do Amazonas. Quando se deu conta do bicho curioso, passou para outros pesquisadores. Divulgada recentemente na revista Zoological Journal of the Linnean Society, a investigação científica foi conduzida por Lucia Rapp Py Daniel e Jansen Zuanon, também do Inpa; Mario Pinna, pesquisador do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo; e Paulo Petry, da Organização Internacional de Conservação Ambiental The Nature Conservancy, nos EUA.
Segundo Jansen Zuanon, o tarumania é muito diferente, tanto por dentro quanto por fora, de outros peixes do grupo dos Characiformes — que engloba a maioria dos peixes de escama da Amazônia, como o matrinxã, o tambaqui e o jaraqui. O que mais chama a atenção é o formato do corpo. “Eles são completamente aberrantes dentro desse grupo e, por isso mesmo, tivemos que descrever uma família nova para acomodar essa espécie”, ressalta.
Para Eduardo Bessa, zoólogo e professor da Universidade de Brasília (UnB), o peixe está muito longe do pirarucu e é mais semelhante à traira. “Por isso deu tanto trabalho para ser identificado. Ele é muito diferente de todos os grupos Characiformes aparentados”, acredita. O fato de não ser igual mostra que o caminho da evolução do tarumania é mais amplo do que o imaginado, segundo Jansen Zuanon, que ressalta ainda que encontrar uma nova família de peixes é um trabalho raro. “Isso acontece uma vez a cada muitas décadas, às vezes, a cada século”, diz, em entrevista à agência de comunicação do Inpa.
Mais escamas
O peixe misterioso, como foi chamado por muitos anos, tem um número incomum de escamas: 240. Até então, sabia-se que esses animais amazônicos tinham 120 ou um pouco mais dessas lâminas. Possui o crânio exposto e sem cobertura de pele. Quando adulto, o corpo comprido atinge de 15 a 17 centímetros. “Ele apresenta características larvais em peixes de até 5 centímetros: nadadeira em forma de lobo, em vez de ser cheia de raios, e notocorda exposta. É um órgão precursor da coluna vertebral que desaparece com o desenvolvimento, mas ainda aparece no tarumania”, explica Lucia Rapp.
Outra característica distinta é a bexiga. “Todos os peixes da nossa região têm no máximo duas câmaras na bexiga natatória. Tarumania tem 11”, compara a pesquisadora. O órgão impede que o peixe afunde ou flutue demais dentro d’água. Também pode ser usada como reserva de ar para os animais que vivem em lugares com pouca oxigenação, mas, de acordo com Lucia Rapp, a maioria deles só a usa para a flutuação. O tarumania, porém, precisa ir à superfície para respirar, ou seja, mesmo que usufrua da bexiga natatória, não vive só com o oxigênio presente na água.
Enterrado
Ainda pouco se sabe sobre os hábitos dessa espécie. Mas os pesquisadores descobriram que o Tarumania walkerae tem hábitos fossoriais. Adaptado a viver debaixo do solo, ele se enterra durante um período do ano na terra, areia ou folhiço, quando as poças secam ou foge pelo lençol freático. Também possui dentes afiados de predador e se alimenta de camarões e invertebrados.
O tempo de existência do tarumania é um mistério e uma informação difícil de ser descoberta pelo hábito de viver isoladamente. “Provavelmente, é um bicho que já existe há bastante tempo, mas vive em um ambiente tão escondido que ninguém nunca tinha visto. Para responder a isso, temos que estudar as relações do tarumania com espécies próximas”, afirma Lucia Rapp.
A pesquisadora indica outros questionamentos em torno da espécie: “Como esse peixe consegue sobreviver em ambientes tão pouco oxigenados? Como ocorre a oxigenação do sangue dele? Como convive com a acidez das águas do Rio Negro, ainda mais em poças? E como ele se reproduz?”, lista.
Para os pesquisadores, um estudo mais aprofundado poderá enriquecer o conhecimento sobre a biologia dos peixes amazônicos. Jansen Zuanon conta que a evolução dos Characiformes se deu de maneira brutal e com diversas adaptações para o ambiente ainda pouco conhecidas. Os próximos passos da pesquisa envolvem entender essas relações evolutivas, conhecer o comportamento da nova espécie e descobrir se ela vive em outros lugares.
Apesar de tantas dúvidas a serem respondidas, o peixe recém-conhecido já corre o risco de desaparecer. O tarumania está ameaçado de extinção devido ao aumento das ocupações humanas na região do igarapé Tarumã-mirim. Lucia Rapp alerta que, se esse tipo de ocupação continuar, em pouco tempo, a vegetação típica amazônica vai desaparecer, o que prejudicaria bastante a nova espécie.
Redação
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