Uma ampla análise sobre a evolução do consumo de álcool no Brasil, entre 2010 e 2019, foi divulgada recentemente, pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa). A publicação mostra que o consumo total de álcool caiu 13% e que há tendência de redução das mortes causadas pelo consumo excessivo da substância no mesmo período. Porém, o consumo abusivo e as internações de mulheres apresentaram aumento e preocupam em meio à pandemia. O país não conseguiu atingir a meta global estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de redução do uso nocivo de álcool até 2025.
“Mulheres destacam-se como população mais vulnerável, não somente por serem mais sensíveis biologicamente ao álcool, mas especialmente pelas tendências preocupantes observadas ao longo de quase uma década. Trata-se de um cenário ainda mais desafiador no contexto da pandemia da covid-19, quando observamos um aumento de consumo de bebidas alcoólicas associado a sentimentos como tristeza e ansiedade, mais frequentes entre eles”, destaca o médico Arthur Guerra.
No caso das internações atribuíveis ao álcool, apesar da estabilidade entre a população geral, a tendência é de aumento com variação média anual de 1,9% entre as mulheres e de 1% entre os idosos, mas atingindo 2,1% entre as mulheres de 55 anos e mais idade. Foi identificado um aumento significativo do uso abusivo de álcool entre as mulheres, com variação anual média de 3,2%, entre 2010 e 2019, chegando a 5% na faixa entre 18 e 34 anos.
Segundo o hepatologista, José Eymard apesar dos problemas hepáticos causados pelo álcool serem mais frequentes nos homens, já existe uma quantidade considerável destas doenças em mulheres, pois estas são mais sensíveis às lesões provocadas por essa substância. “Antigamente, menos mulheres bebiam, hoje o consumo de álcool tem aumentado muito entre elas, principalmente as adolescentes. As mulheres são mais suscetíveis às doenças crônicas relacionadas ao abuso de álcool”, comentou o especialista, destacando também que o tempo de bebida a longo prazo, a suscetibilidade individual (tendência em apresentar o problema), a carga alcoólica consumida diariamente e a existência de outras complicações anteriores, como o fígado gorduroso, sobrepeso, diabetes, doenças hepáticas como a hepatite B e a hepatite C, são fatores que agravam ainda mais a situação do paciente.
O consumo per capita de álcool no Brasil caiu de 8,5 L para 7,4 L entre 2010 e 2018 (-13%). Porém, entre 2010 e 2019, houve uma ligeira queda de abstêmios (de 61,3% para 58,9%), sendo mais evidenciada entre mulheres de 18 a 24 anos, com tendência de redução de 2% ao ano; ou seja, mais mulheres começaram a beber. Também foi observado um aumento sutil do consumo não abusivo de álcool (de 20,6% para 22,3%).
Da Redação