Nove entre dez médicos do estado de São Paulo que têm ou tiveram algum relacionamento com operadoras de planos de saúde denunciaram interferência em sua autonomia profissional. A informação consta de levantamento feito pelo Datafolha a pedido da Associação Paulista de Medicina (APM) e divulgado hoje (23).
A pesquisa apontou ainda que 77% dos 403 profissionais entrevistados, no período de 23 de junho a 18 de agosto deste ano, disseram que os planos de saúde pressionam para limitar o número de pedidos de exames feitos pelos médicos. Um terço acha que a interferência que mais afeta a autonomia é a recusa do pagamento para procedimentos ou medidas terapêuticas.
Além de limitar os exames, na opinião de cerca de 50% dos médicos, os convênios interferiram no tempo de internação dos pacientes, na prescrição de medicamentos de alto custo e no período de internação pré-operatório.
Segundo o presidente da APM, Jorge Curi, a situação já era conhecida, mas a pesquisa confirmou a grave ameaça no atendimento qualificado pelos planos de saúde. Ele disse que a associação está discutindo o assunto há anos com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e com as operadoras, mas não tem encontrado solução.
“É lamentável que as pessoas acabem dispondo de um contingente financeiro importante para garantir uma tendimento mais abrangente para sua família e infelizmente não atinjam esse objetivo”.
Curi disse ainda que o baixo preço pago pelas consulta (R$ 3,00 a R$ 4,00) também prejudica o atendimento.
“Rápido nunca é bom, porque para uma boa relação entre o médico e o paciente é preciso entendimento, perder tempo para ouvir e entender melhor o problema do paciente, de forma a auxiliar para se programar melhor o tratamento. Da forma atual está totalmente prejudicada a relação médico paciente”.
Para modificar a situação, Curi aponta como solução o debate nacional com a participação da população que tem plano de saúde e com pesquisas de satisfação que indiquem os principais problemas do ponto de vista do usuário.
“É necessária uma revisão urgente da regulamentação dos planos de saúde e, se não há poder para a agência regular esse mercado, esse poder tem que ser dado a alguém. Nós nos colocamos permanentemente abertos para negociar. Vamos levar isso ao Ministério Público Federal e pedimos providências urgentes da área legislativa e governamental do país”.
Em nota a Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), afirmou que não faz parte de suas atribuições discutir remuneração a prestadores de serviços (médicos, hospitais e laboratórios). Segundo a nota, a entidade não participa das decisões sobre remuneração de serviços entre esses prestadores e as operadoras de planos de saúde, que já são consolidadas em contrato.
“É, portanto, livre a negociação entre as partes sobre os serviços a serem prestados. A remuneração é variável tanto sobre os valores acordados como também sobre quaisquer outras particularidades do relacionamento entre operadoras de planos de saúde e seus prestadores de serviços”, destaca a Abramge.
Agencia Brasil